Minha casa é aquilo que eu sempre quis de um lar.
Quartos grandes. Dois banheiros distintos. Cozinha razoavelmente espaçosa.
Ela pode não ser o modelo perfeito presente nas revistas de decorações.
Tudo bem.
Adoro as poltronas da sala.
Grandes e confortáveis .
É nelas que repouso todas as minhas ambições cinematográficas.
Pela primeira vez na minha vida, eu realmente me sinto à vontade.
E a mania de limpeza?
Obviamente que continuo procurando teias de aranhas e pó nas prateleiras.
Algo de muito inquietante acontece quando vejo lugares sujos.
Nada mais me deprime do que uma pia repleta de restos de comida.
Não acredito que isso mudará.
Talvez eu sempre tenha sido assim.
Talvez tudo do que precise seja um pelotão de empregadas com vassouras pra lá e pra cá, enquanto leio calmamente e dou ordens.
De qualquer forma, eu sei que acabaria fazendo tudo do meu jeito.
Certas coisas não mudam.
Apenas deixam de ser porque morremos...
assim...
feito plantas sem água em dia de sol.
Ouvido arrebentado por algum motivo.
Olhos que coçam sempre.
Óculos de grau com defeito?
Deve ser.
Sinto uma parte de minha se desmachando.
Quase indo embora.
Não quero me convencer de que estou velha.
Nada disso.
São problemas apenas.
Coisas da idade.
Sou meio neurótica com sintomas.
Diabética?
Dane-se.
Tento de verdade não me sentir acuada.
Mas, é tão difícil sobreviver à data de nascimento.
44 anos.
Poucos.
Ainda atenta e disposta.
Mesmo assim, eu assumo um enorme pavor da velhice.
Não quero sofrer muito.
Espero morrer calmamente
Ouvindo Madredeus
sem uma arma na mão.
Devo explicar que não sou ninguém. Uma mulher. Pouco diferente da maioria. Bem igual mesmo. Penso. Sonho. Brigo. Odeio. Gosto. Implico.
Sei de tudo um pouco. Nada sei depois. Transpiro no calor. Choro no frio. Gozo quando quero. Não troco amor por prazer. Descobri que tudo é válido. Mas tem coisas que não quero pra mim. Cartão de crédito. Conta bancária. Carro na garagem. Obrigações que temo. Sou afoita. Visa ou Credicard. Visto permanente em Mônaco. Lancha importada. O jet set é caro.. Ainda procuro um espaço pra colocar minhas velharias. Enquanto isso, navego em dívidas. Luz. Água. Tv a cabo. Faço de tudo para o tempo passar mais rápido. Só pra descobrir depois que não faz diferença. Lá se foi mais um dia de agonia. Acabou o domingo. Volto pra segunda-feira. Meus papeis na mesa. A calculadora. O computador. Fazem parte do dilúvio em mim mesma....
Findou o devaneio. Sou real e preciso comer.
Vai pra merda lady gaga. Devolve a peruca. Os Cílios. O nariz perfeito. Vai bancar a cool girl em outro manicômio. Etiquetas penduradas no varal. Gucci ou Prada ou D&G. Whatever. Consumo pop fácil. 2011 mentiras contadas. Juram que é novidade. Prefiro a Debbie. Enchi de menina bonita branca com cara de má. O underground é logo ali. Paga pra entrar. Tem pulseira brilhante. Óculos caro. Tudo muito Joyce Pascowitch. Produtinho THX pré fabricado em made in china by USA.
Labirintus dos meus segredos que eu guardo em algum canto. Sala largada de mim mesma que foi sendo despejada de todos os sentimentos. Ficou oco feito qualquer coisa. Sei lá o que vem a ser esse infinito instinto de sobrevivência. Todos os cantos que não sou eu e nunca fui eu. Continuo em órbita gradual do rato de teste. Tateando no escuro com um buraco do nariz entupido de maizena....
Sobrevi ao caos.
Voltei do mesmo jeito que fui.
Sã.
Me deparei com pensamentos.
Era eu mesma me fazendo perguntas absurdas.
Será que sou feliz ou tudo é um sonho?
Não me entendo muito.
Tem dias que dá vontade de sorrir.
Em outros não quero mais nada.
As cinzas do reveillon
não deixaram saudade.
Espero que demore outra comemoração
Não sou alegre o suficiente para festejar datas assim....
Quem sou eu
- Cláudia Pereira
- Uma pessoa que se procura nas telas grandes e pequenas, do VHS à 3D...
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